Quem tem medo de quimio?
Hoje está fazendo um ano que eu fiz minha última quimioterapia vermelha D4/4. Mergulhar nas profundezas obscuras da quimioterapia é a forma que a maioria das pessoas visualiza um tratamento com químio. Os efeitos de lesões na mucosa, perda dos cabelos, náuseas, vômitos, cansaço, diarreia, tive pouco, com exceção da perda dos cabelos, que foi total e da diarréia com mucosite.
E hoje eu estou aqui lembrando do meu oncologista e agradecendo por ele ter sido tão sereno comigo e ter me avisado: você vai ter uma vida praticamente normal. Claro que se você tomar a quimio e comer uma feijoada em seguida pode sentir enjôo, mas fique tranqüila. Você pode até tomar uma taça de vinho com seus amigos de vez em quando. Lembre-se: vida normal”.
E sobre as minhas quimios vermelhas:
Consegui fazer os ciclos com intervalo de 21 dias, que é o indicado. Essas drogas não devem ser dadas novamente antes desse intervalo e nem outras. Portanto vou esperei 21 dias para iniciar a quimo branca. Sempre fazia um exame de sangue e controle da função hepática para saber se seria liberada ou não para a próxima quimio e, graças a Deus, não tive algum problema no meu sangue… as plaquetas, neutrofilos, basófilos ou qualquer outra alteração. Vinte e um dias é o mínimo que o corpo precisa para se recuperar do baque da quimio e cada organismo tem o seu processo de reabilitação e o seu tempo. ainda bem que o meu organismo é puuuunnnnkkkkkkk.
Eu não passei mal, e tive uma boa qualidade de vida em vigência do tratamento. Isso é importantíssimo: manter qualidade de vida. Como disse meu oncologista.
Agora, vou relatar a verdade nua e crua sobre os feitos colaterais da quimioterapia vermelha:
– NÁUSEA – a gente parece que está grávida, no primeiro dia pós-quimo. Mas as medicações utilizadas para diminuir as náuseas e vômitos me ajudaram muitoooo. Quase não tive.
– CONSTIPAÇÃO – nunca tive o intestino preguiçoso. E esse não foi um problema para mim. Mas, nessa época, caprichei na ingestão de fibras.
– ENXAQUECA – eu sempre tive enxaqueca, mas como havia feito um tratamento há 2 anos atrás, não tive. Apenas, uma dor de cabeça leve nos dias da quimio. Ufaaaaaaa. E pode e deve tomar analgésico, viu pessoal?
– INCHAÇO – esse foi o efeito colateral que mais me incomodou. Além disso, tudo o que eu comia causava um e”stufamento, por mais que comesse pouco e comidinha leve, tive a sensação de estar comendo um boi e virando uma vaca. Kkkkk! Cerca de um quilo e meio por químio. Ou seja, engordei 7 quilos nas primeiras quimios vermelhas. Mas fui a um endocrino, ufaaaaa, e perdi 2,7Kg no final das quimios vermelhas.
– ALTERAÇÃO DA SALIVA – fiquei com a boca seca e a sensação de que tinha pouca saliva. Finalmente, consigo bater a minha meta de beber dois a três litros de água por dia!
– FADIGA – Na primeira semana principalmente, começava o dia bem, mas quando dava umas cinco horas da tarde, me batia um cansaço e uma leve dor nas pernas. Tinha que deitar e dormia para melhorar. Depois da primeira semana, não tive mais nada. Nem parecia que tinha feito quimio. O exercício físico ajuda muitooooooooooo.
– INSÔNIA – às vezes, bate uma insônia. Tive mais nas duas primeiras quimios, pois vieram acompanhadas com o corticoide. Aproveitava para ler e escrever. Porque senão a gente fica pensando besteira.
– ALTERAÇÃO DOS NERVOS – fiquei levemente irritada… Rs. Imaginem …..
– HEMORRAGIA – O meu oncologista já tinha me alertado que a quimio iria desregular a menstruação, poderia ficar meses sem menstruar e menstruar meses seguidos e até entrar na menopausa. Minha menstruação veio na data certa e em quantidade normal. Depois de 4 meses, parei de menstruar – e até agora não mestruei mais.
– QUEDA DE CABELOS – Meu couro cabeludo começou a doer em torno de duas semanas depois da quimio. Isso porque o folículo piloso inflama com a quimio. Fiquei uns três dias assim, até o vento incomodava. Depois, parou de doer, e os cabelos começaram a cometer suicídio…rsrsrs! Já tinha cortado curto, pra não estranhar tanto.
Foto – Fabíola 1 anos após a quimioterapia: 10 quilos mais magra, com exercício e alguma restrição calórica!
Enfim, a quimioterapia de fato não é fácil. Cada pessoa, cada organismo, reage de um jeito. Mas temos que encarar e, com foco, força e fé, encontramos solução para tudo. Só não podemos deixar a peteca cair! E como sempre, considero a químio como a bruxa do bem: a malévola.
E a químio é chamada de vermelha por isso aí. Ela é vermelha e a gente fica vermelha. Com xixi vermelho, rosto vermelho, etc…
Mas, hoje, eu relembro que, definitivamente, só ficarei vermelha agora do sol, de tomar vinho ou após fazer laser para a minha rosácea. Rsrs.
Tudo passa, 1 ano se passou e até uva passa!
Fabíola Peixoto Ferreira La Torre
Médica Pediatra
São Paulo, SP