De filha para mãe que viveu o câncer de mama

Há um ano, nós recebíamos a notícia mais transformadora que já recebemos em toda a nossa vida. Era um sábado de manhã cedinho, eu estava em Porto Alegre, quando atendi ao telefonema da Marília, aos prantos, dizendo: “Laura, vem para casa, a mãe recebeu o resultado da biópsia… ela está com câncer de mama!”. Eu não lembro o que pensei naquele momento, só lembro que juntei as minhas coisas e peguei o primeiro ônibus para Santa Cruz, naquela que seria a viagem de 150km mais longa e angustiante que já realizei.

Naquele dia, nós choramos. Nós nos abraçamos, prometemos um ao outro que iríamos encarar essa juntos e que nunca mais iríamos chorar. Toda essa fase inicial é bastante complicada… o diagnóstico, as primeiras consultas para se ter uma noção da dimensão da doença, a prescrição de um tratamento que passou a ser a nossa rotina neste último ano. Mas a minha mãe sempre se manteve firme, otimista, com a sua inabalável fé e as suas características alegria e sede de viver.

Antes disso, toda vez que eu escutava que alguém próximo havia sido diagnosticado com câncer, pensava: “Nossa, deve ser horrível!”, “Como será que é conviver com essa doença?”, “Que sensação terrível deve ser ter alguém bem próximo com câncer!”. Mal sabia eu que estava totalmente enganada. Neste último ano, eu aprendi que o câncer não dói e que dá para se levar uma vida totalmente normal, mesmo acompanhada dele. É claro que existem efeitos do tratamento, mas nós escolhemos nunca nos deixar abater por eles. Isso mesmo, nós, não a minha mãe, porque esse câncer era de todos nós, não só dela. Nós escolhemos compartilhá-lo, e posso afirmar que foi muito mais fácil vencê-lo em equipe!

Se nós choramos depois daquele dia? Choramos, sim. Choramos sozinhos, cada um no seu íntimo. Choramos juntos, mas não de desespero, e sim de emoção por Deus ser tão generoso conosco e ter permitido que a minha mãe respondesse ao tratamento da melhor forma possível.

Neste último ano, aprendemos que as coisas tomam a proporção que damos a elas. Nós escolhemos não nos deixar abater pelo câncer. Nós escolhemos não tratar o câncer como uma doença, mas como uma fase de nossas vidas que nos ensinou muito e nos fez evoluir e encarar o mundo com outros olhos.

E quanto ao câncer da minha mãe, depois de oito sessões de quimioterapia, 25 de radioterapia e uma mastectomia, hoje, mais uma vez dentro do ônibus, percorrendo o mesmo trajeto de um ano atrás e lembrando desses últimos meses que se passaram, posso dizer – desta vez com lágrimas de alegria correndo pelo meu rosto – que ele não existe mais, que foi só uma fase que, como todas as outras, passou!

 


Laura Helena Neis
Bacharel em Direito e filha da Lourdes Helena Neis (à direita)
Porto Alegre, RS