Aprendizados

Foi há quatorze anos, eu estava com 43 anos e vivendo plenamente, trabalhando na empresa familiar, fazendo trilhas off road (paixão) que me proporcionaram conhecer e fotografar (outra paixão) lugares lindos do Rio Grande do Sul…. Ah! hoje em dia minha paixão maior é a gastronomia – AMO!!!!!

Não tinha o hábito de fazer o auto exame – foi quando, um dia, passei a mão na minha mama esquerda e senti um pequeno caroço; aí… aí, começou uma maratona, da ginecologista que identificou um nódulo na mama esquerda fui para a mastologista, que me orientou a fazer a biópsia. Recebi a noticia do cancer no inicio de março de 2003, foi tudo muito rápido, não quis perder tempo, fiquei em choque. Foi um choque que não me paralisou, mas muito pelo contrário: me tomei de uma coragem que nem eu mesma sabia que tinha e marquei logo a cirurgia.

Em menos de um mês já tinha feito o procedimento (cirurgia). Não precisei tirar toda minha mama esquerda, retirei somente um quadrante (um pedacinho), fiz seis ciclos de quimioterapia e mais 32 sessões de radioterapia. Fiquei em tratamento durante dez meses, meses esses que não foram fáceis. Tive medo sim; o meu maior medo era do desconhecido, do que estaria por vir. Muitas dúvidas me atormentavam: será que eu iria ter dores e enjôos? Como meu corpo iria reagir a tudo isso? Fui acompanhada por uma equipe de profissionais que, aos poucos, foram me colocando ao par de como meu corpo  poderia reagir ao tratamento e, nos tempos certos, minhas dúvidas foram sendo esclarecidas. Não foi só com o corpo que me preocupei, tinha que tratar também meu lado psicológico, para poder assimilar tudo o que estava acontecendo; eu já fazia terapia antes do diagnóstico e continuei fazendo durante todo meu tratamento e nos anos que se seguiram… O apoio que recebi da minha família foi fundamental  para o êxito do meu tratamento. Minha família, meu tudo!!!

Hoje me considero uma sobrevivente do câncer de mama, tenho que estar sempre atenta ao meu corpo e fazendo acompanhamento anualmente, uma bateria de exames para ver se está tudo bem. Aprendi muito durante  esses 14 anos, como voluntária e defensora da causa. Tenho consciência e me sinto sortuda em ser  uma pessoa que teve  a possibilidade de poder fazer o tratamento com a rapidez e a agilidade que a doença precisa para ser tratada. Infelizmente, a realidade da maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de mama não é essa no nosso país…. A nossa saúde pede a união de todos para exigir de nossos representantes tratamentos dignos com agilidade, acesso para que novos medicamentos que ajudam em tratamentos de alta complexidade para pacientes com câncer avançado sejam incorporados no Sistema Único de Saúde (SUS),  que ofereçam mais educação, mais empregos para mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que as mesmas sejam mantidas em seus empregos e tenham apoio do início ao  fim do tratamento. Na batalha contra o câncer de mama, desejo que sejamos mais ouvidas – e não, silenciadas. Acho que isso vale para todas as comunidades. Estou me sentindo muito honrada em escrever este depoimento e poder transmitir para as pessoas para que não se sintam sozinhas durante o tratamento de câncer de mama; podemos ajudar cada vez mais uns aos outros, com muita paz e amor para seguir firme e em frente com nossas vidas.

 


Maria Angélica Linden – Moa Linden
Empresária
Porto Alegre, RS