A vida é feita de momentos

Momentos de alegria, tristeza, expectativa, surpresa, raiva, angustia, medo…

Desde criança lidamos de forma positiva com momentos bons e ao contrário quando nos acontece algo ruim. Comigo não foi diferente quando, em julho de 2011, dois dias antes de completar 39 anos, recebi o diagnóstico de neoplasia maligna em dois nódulos na mama direita. Aconteceu. Situação inesperada, paralisante. Descobri um nódulo fazendo autoexame e o outro pela mão treinada da mastologista.

O câncer de mama não era nenhuma novidade para mim, pois na época trabalhava em uma instituição que atuava com divulgação sobre detecção precoce e apoio a pessoas com câncer de mama. Também tive casos da doença na família, inclusive o da minha mãe, que naquele momento passava por um tratamento.

Por maior conhecimento que possuísse sobre a doença, diante de um diagnóstico positivo, não foi diferente a sensação de medo e ausência do futuro quando recebi a notícia. Momento difícil, dor única (SÓ MINHA) e incomparável. Diante disso eu tinha duas saídas: respirar fundo e partir para o ataque ou deixar o pior acontecer.

Como sempre me considerei uma pessoa forte e decidida, não desisti, respirei fundo e parti para o tratamento, sem choro ou pena de mim mesma, foi algo do tipo: o que tiver que ser, será. Fazia tudo o que me era recomendado, segui rigorosamente o tratamento e toquei a vida adiante, apesar da sensação ruim que persistia de não ter controle sobre o futuro (como se tivéssemos algum controle também nos momentos alegres… mas com o diagnóstico a situação é diferente, ficamos transtornados, pois somos seres humanos).

Resumindo minha caminhada, em dezembro de 2011 acabaram as sessões de quimioterapia. Em janeiro de 2012 foi a cirurgia de mastectomia radical com esvaziamento axilar e em abril minha mãe partiu, foi duro. Em junho do mesmo ano encerraram as 28 sessões de radioterapia e em julho foi o início do tamoxifeno.

Em agosto de 2015, através de um exame para controle do tamanho de um hemangioma que tenho no fígado, uma surpresa: metástase no fígado, vários nódulos. Corri para minha oncologista, que solicitou mais exames. Outra surpresa, também metástase óssea. Lá se foi mais um ano de quimioterapia, dessa vez, uma vez por semana. Coragem! Ainda bem que Deus colocou no meu caminho uma pessoa tão competente, atenciosa e iluminada para cuidar de mim. Ela é parte da minha força.

A essa altura do campeonato, seguia num tratamento experimental desde outubro de 2015. Em 2016, os exames de rotina acusaram metástase no cérebro. Pára tudo. Dessa vez eu chorei muito, mas muito mesmo. Dessa vez não queria acreditar naquilo. Dessa vez eu me desesperei a ponto de quase perder o controle da situação.

Alguns dias depois respirei fundo de novo, levantei a cabeça e segui adiante. Pensei: nada vai me abalar depois de ter passado por tudo o que passei. Não vou perder a força e a coragem que sempre tive.

Fiz sessões de radioterapia no crânio e sigo no mesmo tratamento experimental, que está controlando bem o avanço do câncer. Coisa louca tudo isso. Uma vida paralela ou uma nova vida? Sinceramente não sei.

Bom, de minha experiência, o que aprendi até agora e quero compartilhar, que ao passar por um momento “incomum”, temos que seguir adiante e não dar espaço para pensamentos negativos e o desespero. Minha família sempre foi, e continua sendo, o meu alicerce. Desabafe com as pessoas que te amam, conte com elas!

A internet ajuda, mas também atrapalha. Sempre tire suas dúvidas com seu especialista, o desconhecido causa muita angústia e ansiedade. Ninguém melhor que um profissional para ajudar com estas questões.

Tenha fé e seja persistente. Compartilhe seus sentimentos e procure não comparar o diagnóstico de outra pessoa com o seu, pois cada caso é único e dependente de inúmeros fatores. Deixe a porta aberta, viva intensamente, afinal, sempre há uma luz no fundo do túnel!

Ah, o cabelo, se caiu? Sim, a cada tratamento. Para mim isso nunca foi problema, que caia quantas vezes forem necessárias, sei que que irá crescer de novo e bem mais forte, assim como minha fé que se renova a cada momento.

Um abraço carinhoso.

 


Karen Custoroni
Porto Alegre, RS