Quando a médica vira paciente

Olá!! Meu nome é Juliana. Tenho 40 anos, sou médica pediatra e paciente oncológica.

Fui convidada para contribuir com alguns textos no Infomama sobre dicas durante o tratamento e estilo de vida, então, vamos nos encontrar por aqui de vez em quando! Confesso que, quando fui convidada, fiquei um pouco apreensiva. Pensei: como posso enriquecer um trabalho já tão rico quanto o Infomama? Fiquei muito tempo pensando sobre o que escreveria, já que a escrita é um hobby mas não minha profissão, e cheguei a conclusão que, num primeiro contato, seria legal se eu contasse um pouco quem eu sou e como vim parar aqui.

Como já fiz um “spoiler”, sou médica há 17 anos e paciente há pouco mais de 1 ano. E haja paciência para ser as duas coisas! Descobri um câncer de mama em março de 2016 e, de lá para cá minha vida virou de cabeça para baixo. Foram 10 meses afastada do trabalho por causa de parte do tratamento, um prato cheio para uma workaholic como eu perder o chão. Mas quando a gente perde o chão, o que acontece? Cai! E, quando a gente cai, o que acontece a seguir? Levanta.

Por isso, acho que falar sobre esse “levantar” é muito mais interessante e produtivo do que os detalhes do que me derrubou. Esse levantar me fez ver as coisas que me cercam sob outra perspectiva. Minha família, meus amigos, minha relação com as pessoas e comigo mesma, meu trabalho. Desde que eu comecei a faculdade, em 1995 (sim, no milênio passado, eu sei…), nunca tive tanto tempo disponível como durante o tratamento do câncer e isso, num primeiro momento, foi um pouco assustador. O que eu faria com tanto tempo? Como me ocuparia para não ficar 24h por dia pensando no câncer?

Descobri que a coisa mais cara no mundo é o tempo. Eu, que quase sempre fui remunerada “por hora”, percebi que minha hora custa muito mais caro que eu imaginava. Meus dias, então, estes não tem preço! Pois bem, usei todos os meus dias do tratamento em meu próprio benefício, mesmo que estivesse me beneficiando atirada no sofá, assistindo um filme na televisão. Encontrei hobbies que não imaginava, me envolvi em trabalho voluntário, ajudei a promover eventos, até trabalhar na produção de um calendário eu trabalhei.

Então, respondendo à pergunta lá em cima no início do texto, espero contribuir dividindo um pouco essas experiências, que foram muito, mas muito ricas mesmo. E espero, como todos que estão envolvidos nesse projeto lindo que é o Infomama, que estas experiências ajudem outras pessoas a atravessar o mar turbulento que é o câncer de mama. Acreditem, a turbulência acaba.

Até a próxima,
Ju


Juliana Rizzieri
Pediatra e voluntária da ONG Projeto Camaleão
Porto Alegre, RS