Vacinas em pacientes com câncer de mama

A vacinação de pacientes que possuem câncer de mama ainda é uma área importante de estudo, tanto pela definição de quais doenças infecciosas necessitam de prevenção, quanto pela necessidade de saber o quanto aquela vacina realmente está protegendo depois do tratamento imunossupressor.

O esquema ideal de vacinas é o que corresponde ao calendário vacinal relacionado à faixa etária.  O momento em que o médico define junto com o paciente o tratamento é uma excelente oportunidade de atualizar a carteirinha de vacinação, preferencialmente 14 dias antes de iniciar a quimioterapia. Diversas vacinas são dose única, ou a primeira dose poderá proporcionar uma proteção. Quando não for possível realizar antes da quimioterapia, ainda assim esquemas vacinais podem ser recomendados.

Para definir quais vacinas realizar, primeiramente é importante conhecer o histórico vacinal da pessoa e o tempo em que ficará imunodeprimida (com as defesas baixas). Preferencialmente, a vacinação deve ocorrer fora do período máximo de imunossupressão, objetivando uma melhor resposta e duração de proteção, além de evitar doença pelo agente vacinal. As vacinas vivas não devem ser realizadas nesse período e, dependendo das condições epidemiológicas, vacinas inativadas são uma opção segura durante quimioterapia ou radioterapia. A vacinação de pessoas que convivem com os pacientes (conviventes) pode ser uma alternativa importante para evitar doenças passíveis de prevenção. O Quadro 1 mostra as vacinas que podem ser realizadas em pacientes em quimioterapia, radioterapia e seus conviventes.

Lembrem-se que antes de iniciar o tratamento é o momento ideal para atualizar as vacinas conforme o Calendário Nacional do Ministério da Saúde (PNI) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Os Centros de Referência em Imunológicos Especiais (CRIEs) possuem algumas vacinas gratuitas para quem está tratando o câncer de mama e seus conviventes. Poderão ser realizados esquemas encurtados, chamados acelerados, para situações em que várias doses necessitam ser aplicadas. Em muitos casos, doses necessitarão ser repetidas após finalizado o tratamento, a fim de assegurar a resposta adequada a longo prazo. Após três meses do final da condição de imunodepressão, vacinas vivas virais e bacterianas já poderão ser realizadas.

Quadro 1. Vacinas recomendadas para pacientes que necessitam de quimioterapia, radioterapia e seus conviventes domiciliares, oferecidas nos CRIEs1:

Vacinas2 Pacientes Conviventes
  Antes do tratamento Depois do Tratamento  
BCG Não Não
Difteria- Tétano- Coqueluche Sim Sim
Pólio Oral (VOP) Não Não Não
Pólio Inativada (VIP) Sim Sim Sim
Hepatite B (4 doses, dobro da dose) Sim Sim
Sarampo- Rubéola – Caxumba Sim Não Sim
Varicela – Zoster Sim Não Sim
Febre Amarela Sim Não
Haemophilus influenzae B Sim, se <19 anos Sim, se <19 anos
Influenza Sim Sim Sim
Hepatite A Sim Sim
Pneumocócicas (VPC13, VPP23)* Sim Sim
Meningocócicas (C, ACWY e B)** Sim Sim

1 Adaptado do Manual do CRIE, 2014.
2 Além das vacinas aqui recomendadas, aqueles que convivem com esses pacientes deverão receber as vacinas do calendário normal de vacinações do PNI e dos calendários da SBIM conforme faixa etária.
* Somente VPP23 disponível no CRIE
** Somente Meningo C disponível no CRIE

 


Lessandra Michelin
Médica Infectologista
Caxias, RS

 

Referências

1.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Nota Informativa 94, de 2017. CGPNI/DEVIT/svs/MST. Orientações e indicação de dose única da vacina de febre amarela. https://sbim.org.br/images/files/nota-ms-fa-170410.pdf

2.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – 4. ed. – Brasília. Ministério da Saúde, 2014; pp 46-47.

3.Lorry G. Rubin, Myron J. Levin, Per Ljungman, E. Graham Davies, Robin Avery, Marcie Tomblyn, Athos Bousvaros, Shireesha Dhanireddy, Lillian Sung, Harry Keyserling, Insoo Kang. 2013 IDSA Clinical Practice Guideline for Vaccination of the Immunocompromised Host. Clinical Infectious Diseases, 2014; Vol 58 (3): e44–e100.