Tratamento personalizado experimental para o câncer de mama metastático: esclarecimentos

Várias reportagens foram feitas sobre Judy Perkins (figura 1), uma americana de 52 anos que teve câncer na mama direita com metástases no fígado e em outros órgãos, refratário a vários esquemas de quimioterapia. Devido à falta de resposta da doença ao tratamento convencional, a paciente, na época com 49 anos, foi convidada a entrar em um projeto de pesquisa que estava testando um novo tipo de tratamento.

O câncer de mama que ela tinha possuía receptores hormonais e era negativo para o receptor HER2. Após avaliação criteriosa, a paciente foi submetida aos seguintes procedimentos:

– biópsia do tumor de mama: um pedacinho do tumor de mama metastático para a pele da paciente foi retirado e enviado para análise;

– foram encontradas varias alterações genéticas (mutações) nos fragmentos da biópsia do tumor;

– os pedacinhos do tumor biopsiado foram colocados, no laboratório, em meio de cultura com altas doses de interleucina-2, para que uma população de linfócitos infiltrantes tumorais (tumor-infiltrating lymphocytesou TILs) crescesse e pudesse ser retirada desse meio de cultura;

– as TILs foram então preparadas para reagir contra determinados antígenos dos tumores presentes no corpo da paciente (nos locais das metástases); foram preparadas milhões dessas células com maior potencial de combater o câncer da paciente;

– após o crescimento e preparo das TILs, a paciente foi hospitalizada para receber quimioterapia de condicionamento da medula óssea (necessária antes da transfusão de TILs);

– a paciente recebeu as TILs preparadas no laboratório de volta para seu corpo através de uma infusão no sangue (via endovenosa); 62% das TILs infundidas eram uma população de linfócitos T com memória; 21% tinham expressão de PD-1 (necessário para que haja resposta a um tratamento chamado imunoterapia, que pode ser posteriormente administrado, se necessário).

Seis semanas após a transferência das TILs para a paciente, houve redução do volume de metástases em 51%; 22 meses após a transferência, todas as lesões metastáticas haviam desaparecido dos exames de imagem (figura 2).

Figura 1 – Judy Perkins.

Figura 2 – Na coluna da esquerda há imagens mostrando os tumores metastáticos da paciente (marcados com flechas amarelas) antes da infusão de TILs. Na coluna da direita, imagens mostram que os tumores desapareceram 22 semanas após o tratamento.

 

Este estudo mostra o quanto um tratamento individualizado e personalizado pode ser importante para pacientes com tumores muito agressivos e resistentes ao tratamento convencional. É importante salientar que ainda são necessários mais estudos como esse em um maior numero de pacientes, para que possamos entender exatamente em quem o tratamento funciona melhor e o que acontece com as pacientes a longo prazo.

 


Daniela Dornelles Rosa, MD PhD
Oncologista Clínica
Porto Alegre, RS

 

Referências:

  1. Tipos de câncer de mama: https://www.infomama.com.br/blog/tipos-de-cancer-de-mama/
  2. Pesquisa que Judy Perkins entrou: https://clinicaltrials.gov/ct2/show/record/NCT01174121
  3. Zacharakis N, Chinnasamy H, Black M et al. Immune recognition of somatic mutations leading to complete durable regression in metastatic breast cancer. Nature Medicine 2018 (doi:10.1038/s41591-018-0040-8).