Feito Fênix, das cinzas eu renasci!

Erechim, 27 de agosto de 2017. O dia em que eu tive certeza que Deus está comigo! Um domingo tão comum para os outros, e estava sendo para mim também. Levantei, atendi as necessidades da minha filha e fui tomar meu banho. Foi tomando banho que eu sinto como se tivesse ouvido a voz de Deus dizendo para eu fazer o auto exame (logo eu que achava impossível ter a sensibilidade para descobrir algo tão importante). Tive tanta sensibilidade ao receber isso em meus pensamentos que fiz e, no mesmo minuto, pude identificar dois caroços na mama esquerda. Liguei para minha mãe e perguntei a ela como ela havia identificado o câncer dela (sim! minha mãe havia passado por isso há 9 anos, e minha vó já falecida também). Mesmo com tudo que estava acontecendo, fui almoçar com meus familiares, minha mãe quis ver e pediu para eu ligar marcando o médico. Fiz isso na segunda-feira. Consegui realizar os exames na mesma semana.

Exames daqui, exames dali, e foi então que recebi o diagnostico de câncer de mama. Sim, ninguém escolhe ter um câncer. Eu mesma não escolhi! Chorei; inúmeras vezes eu esperava o telefone tocar dizendo que os exames estavam errados, mas não, isso nunca aconteceu, os exames estavam certos e conforme os resultados iam chegando, mais certeza de que o telefone não iria tocar e que o laboratório não havia errado. Recebi os resultados aqui na minha cidade mesmo, mas como minha mãe havia feito tudo em Porto alegre, resolvemos fazer o tratamento todo lá.

De Erechim a Porto Alegre dá mais ou menos 5 horas de viagem e, acredite, eu chorei esse percurso todo – e chorei ainda uma semana.  Eu não conseguia parar de chorar. Uma das semanas mais difíceis, afinal eu estava com um diagnostico de câncer e longe da pessoa que eu mais amava – minha filha de 6 anos.

Quando você descobre que tem um câncer só consegue ter duas reações: chorar e questionar (euzinha aqui só consegui ter essas duas). Questionei a Deus. Perguntei várias vezes, por que comigo? Já que eu me auto avaliava como uma pessoa boa, que sentia amor ao próximo, empatia, conseguia me colocar com muita facilidade no lugar do outro. Mas não conseguia encontrar nenhuma resposta que me confortasse. Durante um programa de televisão ouvindo histórias como a minha, pude perceber que na verdade eu estava me fazendo a pergunta errada: porque não eu?

Eu morri, matei meus sonhos no momento que eu recebi essa notícia, não conseguia ver mais futuro, tudo estava acabado. Mas ao mesmo tempo que me mataram, eu só conseguia olhar para aquela boneca que estava comigo. Uma menininha linda, de apenas 6 anos, cheia de sonhos e viagens programadas na cabecinha dela. Como eu poderia contar isso pra ela? Como eu poderia dividir uma noticia tão triste! Quem é que está preparado para perder os pais? E com 6 anos, impossível estar!

Nos dias em que estive em Porto Alegre me deparei com uma equipe fantástica. No momento em que as médicas iam confirmando o resultado eu chorava ainda mais. E foi lá, naqueles consultórios que eu encontrei a sabedoria necessária para poder encarar essa doença. Os meus maiores incentivos estavam dentro de casa, mas foi lá que eu encontrei os melhores deles, de gente que via diariamente as coisas acontecerem. Poxa! Como eu voltei mais leve.

Eu tive a sensação de que eu desci ao fundo do poço tomei uma água e voltei, afinal, quem chega ao fundo do poço só consegue seguir uma direção – e é pra cima.

Voltei para minha Erechim renovada, de cabeça erguida pronta para o que viesse! Voltei para os braços dos meus queridos familiares e amigos. Na medida que as coisas iam acontecendo, eu pensava sempre em como eu não queria ser. No quanto eu não queria ser vítima e sim protagonista e tomar as rédeas da minha vida.

Conheci muita gente, fiz muitos amigos, reconheci outros, outros ainda sumiram, mudei de face inúmeras vezes. Encontrei inspirações – e quem sabe elas nem saibam. Do cabelo comprido e mal ajeitado, para um corte despojado, para uma careca branquinha e para uma peruca loura platinada.

Fui dos céus, ao inferno em questões de dias! Realizei as primeiras quimioterapias e não desisti do trabalho. Não desisti de mim. Não desisti da vida!

Conforme as coisas iam acontecendo, lembrava dos pedidos que já tinha feito na vida, entre eles, o cabelo que incomodava, os peitos que eram pequenos, viagens que nunca chegavam, situações pequenas que me incomodavam e meus trabalhos que eu amava e não me imaginava sem. E a vida quase que, sem dó, te tira tudo, te faz dar um tempo, também te dá a oportunidade de ter tudo o que tu querias – mas antes disso tu tens que provar que és forte para ganhar o que deseja.

Com as primeiras quimios veio a queda de cabelo, dores de estômago, entre tantas outras coisas que eu não gosto nem de lembrar. Mas junto com elas, vieram os amigos, o amor dos familiares, e os cuidados da minha filha. Ahh minha filha, minha querida filha que muitas vezes levantei da cama só para poder levar na escola, poder abraçar e ganhar muito, muito carinho.

Eu estava em tratamento, mas continuava vivendo; aliás, vivendo como eu não vivia há algum tempo, vivendo como se não houvesse amanhã. Não deixava nada para depois porque não sabia se estaria bem depois para fazer. Saía com os amigos, ia para festas, jantares, barzinhos, aproveitei como não aproveitava há certo tempo.

Quando eu conto ninguém acredita, hoje eu uso a peruca porque eu não gosto muito que sintam pena, mas eu aproveitei cada corte de cabelo, e usei muita, muita maquiagem, porque a maquiagem me dava um “up”, era ela que me fazia sair de casa. Aliás, não ia gastar maquiagem só para ficar em casa, está muito cara! Hahaha!

E com o passar dos dias, tudo acabou. Eu terminei as quimios, as rádios, passei por cirurgia, as incansáveis expansões e a certeza de que tudo nessa vida passa. E eu que sou completamente apaixonada pela simbologia da Fênix, ela hoje me representa, porque ter um câncer de mama é muito ruim, mas eu engatei a primeira e foquei nas coisas que eu estava ganhando com isso tudo. Ganhei carinho, amor, dedicação e preocupação das pessoas que eu amo, e de outras que eu nem sequer sei quem são. Me inspirei, inspirei e não pirei.

Seguir a vida, aproveitar as oportunidades que chegam, e curtir, com a certeza de que estamos aqui de passagem e que a vida nada mais é que momentos! Escolha ser feliz e não perca a esperança: os dias bons chegarão, antes do que você imagina!

 


Tauana Boschetti
Erechim, RS