Queda de cabelos e quimio

A alopécia (queda de cabelo) constitui a manifestação adversa cutânea mais comum do tratamento quimioterápico e pode causar um grande impacto emocional para a paciente, a ponto de recusar ou retardar o tratamento. É importante que alguns aspectos sejam esclarecidos para que possamos aceitar e lidar da melhor maneira possível com esse efeito colateral.

Podem ocorrer dois tipos de alopécias induzidas por medicamentos: o efluvio anágeno e o afinamento, com consequente quebra do fio; no efluvio anágeno, ocorre interrupção abrupta da atividade capilar. Geralmente, inicia uma a duas semanas após o início da quimioterapia, ocasionando uma queda aguda do cabelo. Durante esse período, a paciente pode sentir coceira, sensibilidade ou dor leve no couro cabeludo. Pode ocorrer nos cabelos, sobrancelhas, barba, pelos axilares e pubianos, mas a repilação (retomada dos pelos) nessas áreas costuma ser mais rápida. No segundo caso, a queda ocorre por afinamento do fio no momento máximo da quimioterapia, resultando em constrições do fio e consequente quebra do mesmo

Pacientes com outros fatores de risco, como quimioterapias prévias, histórico de exposição do couro cabeludo a radioterapia, alopécia androgênica, idade avançada e doenças associadas podem ter maior risco de alopécia induzida por quimioterápicos.

A alopécia causada por quimioterapia geralmente é reversível com a parada do tratamento. Casos de alopécia permanente ou prolongada são menos comuns e em geral acontecem em pacientes submetidos a quimioterapias mais prolongadas ou com doses maiores.

Em relação ao retorno do cabelo, o folículo capilar retoma seu ciclo algumas semanas após o término do tratamento, sendo que o crescimento torna-se aparente entre 3 a 6 meses depois, já que o fio cresce em torno de 1 cm ao mês. O cabelo novo muitas vezes apresenta características diferentes do original; sabe-se que 65% dos pacientes relatam um cabelo mais acinzentado, encaracolado, mais forte e rejuvenescido, mas esses efeitos costumam ser normalizados com o tempo.

Algumas ações têm sido feitas para reduzir a quantidade de medicamento que chega ao folículo capilar, tais como o resfriamento capilar para reduzir o fluxo sanguíneo no couro cabeludo e também algumas medicações de uso tópico, com o objetivo de tentar prevenir a queda dos cabelos durante a quimioterapia.

O uso de sistemas de resfriamento do couto cabeludo pode ser oferecido, em alguns casos (ver o post “Toucas para evitar queda de cabelos na quimioterapia”, na sessão de Dicas durante o tratamento). Existem também tentativas de reduzir a alopecia com o uso de medicações como bimatoprosta, minoxidil tópico e calcitriol, porém, atualmente não há estudos suficientes que justifiquem o uso dessas medicações em todas as pacientes. Alguns estudos pequenos experimentais tem sugerido que medicações biológicas poderiam ter o efeito preventivo na alopécia e, no futuro, talvez possam ser utilizados nas pacientes em quimioterapia.

 


Analupe Webber
Médica Dermatologista
Porto Alegre, RS

Ana Beatriz Carpena El Ammsr
Médica Dermatologista
Porto Alegre, RS

 

Referências
1. Donati A, Castro L. Efeitos colaterais cutâneos de quimioterapia com taxanos. O ponto de vista do dermatologista. An Bras Dermatol. 2011;86:1806-4841.
2. Gude D. Tackling Chemotherapy-induced Alopecia. Int J Trichology. 2012 Jan-Mar; 4(1): 47–48.
3. Fehr M, Welter J et al. Sensor-controlled scalp cooling to prevent chemotherapy-induced alopecia in female cancer patients. Curr Oncol. 2016 Dec; 23(6): e576–e582.