A (não) perda de tempo (texto 5)

Quando a gente passa por momentos difíceis, por vários momentos difíceis, é comum repensar algumas coisas. E isso tem acontecido comigo nos últimos meses….

Não tem sido fácil enfrentar as aplicações de quimioterapia, mas também não tem sido o fim do mundo. E isso por um motivo simples, mas repleto de significado. Eu tenho muito amor perto de mim. Amor do meu marido, do meu filho, das minhas tias, dos meus irmãos, dos meus amigos e, até mesmo, de pessoas desconhecidas.

É tão emocionante! Quase que diariamente eu recebo mensagens de pessoas que, em algum momento, passaram pela minha vida. Esses tempos uma ex-professora de uma pós-graduação que fiz escreveu um texto muito lindo e incentivador. Essas coisas me emocionam. Por vários motivos, mas o principal é saber que as pessoas ainda sentem amor pelas outras. E isso, em meio a uma vida tão corrida, é algo escasso.

Em contrapartida, algumas (duas) pessoas me deixaram reflexivas sobre o valor da amizade. Não me decepcionaram, isso porque, nesse momento, seria um sentimento muito grande, mas mostraram que nunca foram minhas amigas. Explico: quando souberam que estaria iniciando o tratamento contra o câncer, enviaram uma mensagem pro meu celular e nunca mais fizeram contato. E eram pessoas próximas a mim. Fico triste. Não por mim, mas por elas.

Explico de novo: que tipo de vida elas estão levando que não tenham tempo de falar com uma pessoa para perguntar como ela está? Que tipo de vida elas estão levando que não podem parar cinco minutos para digitar ou gravar um áudio com palavras de carinho? Que tipo de vida elas estão levando que não podem reservar uma hora para tomar um ou dois  cafés com alguém? Que tipo de vida estão levando? Que tipo de vida estão transformando suas vidas?

Sabe, onde moro tem uma sacada linda, com uma vista show. Seguido pensava que ali seria ótimo tomar café da manhã, mas ficava com preguiça porque era “longe” da cozinha. Longe??? Por favor!!! Agora é meu lugar nos finais de semana. Eu e meu marido sentamos lá, tomamos café, conversamos e isso nos faz relaxar tanto que quase perdemos a hora…. bem simples, né? Não. Não é simples. É maravilhoso poder se permitir e viver pequenas coisas. Pequenas grandes coisas.

O problema é que as pessoas não se permitem. Não podem param porque estarão perdendo tempo. Tudo deve ser corrido e correndo. Eu era assim. Engolia o café porque precisava ir para o escritório. Engolia o almoço porque tinha que estar no cliente. Dirigia rápido porque estava atrasada para chegar em casa para o jantar porque já saia atrasada do trabalho.

E agora?

Ah, agora o meu café da manhã com a minha família é a parte mais importante do meu dia. E agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de perceber isso a tempo.

 


Fernanda Rosito
Jornalista
Porto Alegre e Novo Hamburgo, RS