A história do laço

De uma forma geral, os laços são utilizados em diversas campanhas como símbolo de luta e esperança.

O atualmente famoso laço cor-de-rosa, símbolo da campanha de conscientização para o diagnóstico precoce e tratamento do câncer de mama, em última análise, surgiu a partir de uma crise diplomática…!

Em 1979, 52 norte-americanos ficaram reféns por 444 dias após a tomada da embaixada americana em Teerã, por um grupo de militantes a favor da Revolução Iraniana. O marido de uma americana chamada Penney Laingen era um dos reféns. Penney pendurou laços amarelos em árvores, com o objetivo que seu marido voltasse para casa.

A história conta que a idéia que Penney teve veio a partir de uma música chamada “Tie a Yellow Ribbon Round the Ole Oak Tree”, gravada por Tony Orlando (https://www.youtube.com/watch?v=FjqBhZj_37U), que falava de um prisioneiro que, após 3 anos, estava livre e havia mandado uma carta para a companheira pedindo para que a mesma amarrasse laços amarelos em uma árvore caso o quisesse de volta. Quando o ex-prisioneiro chegou a sua cidade, qual nao foi sua surpresa ao ver vários laços amarelos amarrados às árvores!

Há quem diga que a música que inspirou Penney foi outra, gravada por George A. Norton: “Round her neck she wears a yellow ribbon” (https://www.youtube.com/watch?v=xb9QhBxSl3U), que conta a história de uma mulher que coloca o laço amarelo no pescoço a espera de seu companheiro, que está muito longe.

Em 2 de junho de 1991, o laço como sinal de alerta foi usado na campanha norte-americana de conscientização contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS, em inglês). O grupo ativista Visual AIDS (visualaids.org) lançou o laço vermelho por lembrar a cor do sangue e, também, como uma alusão à paixão. A idéia foi um sucesso, como pode-se ver nas figuras abaixo.

Esse era o momento perfeito para alguém ter uma idéia brilhante de usar um laço para a campanha de conscientização contra o câncer de mama. E aí vem mais uma história.

Quase que simultaneamente, algumas pessoas tiveram a mesma ideia, em locais diferentes.

A Susan G. Komen Breast Cancer Foundation vinha distribuindo viseiras cor-de-rosa nas suas corridas em prol da cura do câncer de mama desde o final de 1990. Além de viseiras, distribuiu laços cor-de rosa durante a corrida de 1991, em Nova Iorque. Parece que os laços foram apenas um detalhe nesse momento.

Na Califórnia, uma senhora chamada Charlotte Haley, de 68 anos, havia perdido a avó com câncer de mama e possuia a irmã e a filha com câncer de mama. Na sua sala de jantar, no ano de 1991, Charlotte confeccionou laços na cor pêssego; em cada pacote com 5 laços, ela colocava um bilhete dizendo que “O orçamento anual do Instituto Nacional de Câncer dos EUA é de U$ 1,8 bilhões e apenas 5% são destinados à prevenção do câncer. Ajude-nos a acordar os legisladores e a América usando esse laço” (ver figura abaixo).

No início de 1992, Alexandra Penney, editora-chefe da revista Self, estava organizando a segunda edição anual de conscientização contra o câncer de mama, em conjunto com a vice-presidente (e sobrevivente de câncer de mama) da marca Estée Lauder, Evelyn Lauder. Penney decidiu criar um laço para a campanha, que seria distribuído junto a todos os cosméticos da marca Estée Lauder, nas lojas de Nova Iorque e, após, de todos os Estados Unidos.

Uma semana após essa idéia, foi publicada uma reportagem sobre a senhora Charlotte Haley e Alexandra Penney e Evelyn Lauder resolveram convidá-la para fazer uma colaboração. Charlotte não quis colaborar, por achar que haveria uma quesrtão comercial muito forte envolvida na campanha. Desta forma, para evitar problemas, a revista Self e a marca Estée Lauder lançaram o laço na cor rosa.

A cor rosa, sempre utilizada nas campanhas da Susan G. Komen Breast Cancer Foundation, foi escolhida por ser importante representante da essência feminina na cultura ocidental. O resto da história de sucesso do laço rosa, vocês já devem saber, pois ele se tornou popular no mundo todo!

Após a popularização da luta contra o câncer de mama, outras cores passaram a ser usadas para representar a luta contra os demais tipos de tumores.

Atualmente, temos o seguinte calendário anual de conscientização:

Janeiro: Câncer de colo do útero (laço verde piscina)
Fevereiro: Leucemia (laço laranja); câncer de vesícula biliar (laço verde)
4 de fevereiro: Dia Mundial do Câncer
15 de fevereiro: Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil
Março: Câncer colorretal (laço azul marinho); câncer de rim (laço vermelho)
Abril: Câncer de testículo (laço lilás); câncer de esôfago (laço azul claro); câncer de cabeça e pescoço (laço vermelho e branco)
8 de abril: Dia Mundial de Combate ao Câncer
Maio: Câncer de cérebro (laço cinza)
31 de maio: Dia Mundial sem Tabaco
Junho: Melanoma (laço preto)
Julho: Sarcoma (laço amarelo); câncer de bexiga (laço rosa, verde e roxo); câncer ginecológico (laço verde escuro)
Agosto: Linfoma (laço verde claro)
Setembro: Câncer de pâncreas (laço roxo); câncer infantil (laço bege); câncer de ovário (laço verde claro); câncer de tireoide (laço rosa e azul)
Outubro: Câncer de mama (laço rosa); câncer de fígado (laço verde musgo)
Novembro: Câncer de próstata (laço azul); câncer de pulmão (laço branco); câncer de estômago (laço azul claro)
27 de novembro:Dia Nacional de Luta Contra o Câncer
Dezembro: Câncer de pele (laço laranja)

 


Daniela Dornelles Rosa
Médica Oncologista, PhD
Pós-doutora pela CAPES em Manchester, Inglaterra
Porto Alegre, RS

Referências

  1. https://www.bbc.com/news/uk-29521449
  2. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2011/11/1001437-ira-recorda-tomada-de-refens-na-embaixada-dos-eua-em-1979.shtml
  3. Música “Tie a Yellow Ribbon Round the Ole Oak Tree”:https://www.youtube.com/watch?v=FjqBhZj_37U
  4. Música “Round her neck she wears a yellow ribbon”: https://www.youtube.com/watch?v=xb9QhBxSl3U
  5. https://thinkbeforeyoupink.org/resources/history-of-the-pink-ribbon/
  6. http://visualaids.org/events/detail/red-ribbon
  7. https://www.nytimes.com/1992/05/03/style/the-year-of-the-ribbon.html
  8. https://www.bcaction.org/2014/06/24/in-memoriam-charlotte-haley-creator-of-the-first-peach-breast-cancer-ribbon/